História do Timão

Por que o Corinthians deu o apelido “Porco” ao Palmeiras?

O futebol é muito mais do que um esporte; é um palco de emoções, rivalidades e, por vezes, eventos marcantes que transcendem as quatro linhas. Um desses episódios que ficou marcado na história do futebol brasileiro ocorreu há 50 anos, quando o Corinthians, em meio a uma tragédia, deu origem ao apelido “Porco” para o Palmeiras.

Vamos mergulhar nessa história, compreender o contexto e desvendar os motivos que levaram a essa curiosa rivalidade.

A Tragédia no Corinthians de Lidu e Eduardo: 1969

Em 28 de abril de 1969, Lidu, lateral-direito, e Eduardo, ponta-esquerda, do Corinthians, perderam suas vidas em um trágico acidente de carro na Marginal do Rio Tietê. Ambos eram peças essenciais na equipe alvinegra e viviam o auge de suas carreiras.

O acidente ocorreu após uma comemoração pelos bons resultados no Campeonato Paulista daquele ano.

O Corinthians, em luto, enfrentou não apenas a perda de dois talentosos jogadores, mas também a necessidade de reorganizar seu elenco em meio à competição. Essa reorganização, porém, encontrou uma barreira inesperada.

O Pedido de Substituição do Corinthians e a Votação na FPF

Com o campeonato em andamento, a diretoria do Corinthians buscou autorização para inscrever dois novos jogadores, substituindo Lidu e Eduardo.

A janela de inscrição de jogadores, entretanto, já estava encerrada. A solução proposta pela Federação Paulista de Futebol (FPF) foi uma votação entre os 14 clubes participantes do Campeonato Paulista, exigindo unanimidade para permitir a exceção.

Aqui entra o Palmeiras como peça fundamental nesse enredo. Durante a reunião do conselho arbitral do campeonato, o clube alviverde foi o único a votar contra o pedido do Corinthians. A decisão do Palmeiras, representado pelo diretor de futebol José Gimenez Lopes, foi crucial, impedindo a inscrição dos substitutos.

O Episódio do “Espírito de Porco”

Diante da recusa do Palmeiras e da impossibilidade de realizar as substituições, o presidente do Corinthians, Wadih Helu, acusou publicamente o Palmeiras de ter “espírito de porco”.

Essa expressão, proferida em meio à dor da perda e à frustração da negativa, tornou-se o estopim para uma rivalidade que transcenderia o campo de jogo.

O termo “porco” não era novo no contexto do futebol brasileiro. Desde a Segunda Guerra Mundial, italianos eram frequentemente chamados de “porcos” devido à participação da Itália no conflito ao lado do Eixo. No entanto, o episódio de 1969 revigorou essa provocação.

A Rivalidade Ganha Força nas Arquibancadas

A partida seguinte entre as duas equipes transformou o Morumbi em palco de um protesto marcante. Antes do apito inicial, um porco foi solto no gramado pelos torcedores corintianos, simbolizando a acusação de “espírito de porco” atribuída ao Palmeiras.

Esse ato, misto de revolta e provocação, foi acompanhado por um coro ensurdecedor de “porco, porco”.

Essa manifestação intensa nas arquibancadas não apenas refletia a frustração dos torcedores corintianos diante da decisão do Palmeiras, mas também plantava a semente de uma rivalidade que transcenderia as décadas, moldando a relação entre as duas torcidas.

A Provocação como Elemento Cultural

O episódio do porco solto no gramado foi além de um simples protesto; tornou-se um elemento cultural, uma forma peculiar de expressão da rivalidade no futebol brasileiro. O coro uníssono de “porco, porco” ecoou nos estádios e, com o tempo, essa provocação ganhou contornos maiores.

É importante notar que, na década de 1960, o futebol brasileiro estava imerso em rivalidades acaloradas. As arquibancadas eram palco de expressões intensas de paixão clubística, e o episódio do porco adicionou um novo capítulo a esse livro de rivalidades.

A provocação corintiana não se dissipou; ao contrário, ganhou força com o passar dos anos.

O “Espírito de Porco” como Símbolo de Resistência do Corinthians

A recusa do Palmeiras em permitir a substituição dos jogadores pelo Corinthians foi interpretada não apenas como uma decisão esportiva, mas como um ato de resistência. A expressão “espírito de porco”, lançada pelo presidente do Corinthians, Wadih Helu, serviu como uma marca de desaprovação à postura palmeirense.

Essa desaprovação, manifestada de forma tão simbólica nas arquibancadas, transformou-se ao longo do tempo. O “espírito de porco”, inicialmente uma acusação, foi assumido pelo Palmeiras como símbolo de resistência e orgulho.

A provocação corintiana, que buscava ridicularizar, acabou fortalecendo a identidade palmeirense e dando origem a um dos mascotes mais reconhecíveis do futebol brasileiro.

O Porco como Mascote Oficial do Palmeiras

O inusitado ocorreu em 1986, quando o Palmeiras decidiu adotar o porco como mascote oficial do clube. Essa mudança de postura foi uma resposta consciente à provocação corintiana, transformando algo que começou como ofensa em um símbolo de identidade.

O porco, que antes era solto como protesto nos estádios, tornou-se uma figura oficial e querida pelos torcedores palmeirenses. O episódio, que teve início como um capítulo trágico e provocativo, culminou na aceitação e adoção do apelido pelos próprios adeptos, redefinindo o “espírito de porco” como um elemento de orgulho e resistência.

O Legado nas Arquibancadas e Além

A rivalidade que ganhou força nas arquibancadas entre Corinthians e Palmeiras transcendeu as gerações. O coro de “porco, porco” tornou-se um mantra, entoado em cada encontro entre as equipes. Essa expressão de rivalidade, ao invés de diminuir, ganhou intensidade com o tempo.

Hoje, quando os torcedores corintianos entoam “porco, porco” e os palmeirenses exibem o porco com orgulho, estão revivendo um capítulo único da história do futebol brasileiro. A provocação, que teve início nas arquibancadas, moldou a cultura dos clubes e se tornou uma parte indissociável da narrativa do Corinthians e do Palmeiras.

Das Arquibancadas do Corinthians para a Eternidade

A rivalidade entre Corinthians e Palmeiras, impulsionada pelo episódio do porco nas arquibancadas, é mais do que uma disputa esportiva; é uma saga que transcende o campo de jogo e se insere na identidade cultural do futebol brasileiro.

O “porco” deixou de ser apenas uma provocação para se tornar um símbolo de resistência e orgulho para os palmeirenses.

Neste cenário complexo de rivalidade, provocação, luto e transformação, a história do apelido “Porco” para o Palmeiras destaca-se como um exemplo único de como o futebol pode ser mais do que apenas um jogo.

É uma narrativa viva, contada nas arquibancadas, nos símbolos adotados e nas tradições que resistem ao teste do tempo. E assim, das arquibancadas para a eternidade, a rivalidade entre Corinthians e Palmeiras continua a escrever novos capítulos na rica história do futebol brasileiro.

A resposta do Palmeiras na época foi resistir à provocação e manter sua posição. José Gimenez Lopes justificou o voto contra alegando que aceitar a proposta poderia, portanto, questionar sua legitimidade perante os órgãos superiores.

A decisão palmeirense fortaleceu a rivalidade, mas o episódio ainda estava longe de se encerrar.

A Evolução do Apelido: Provocação para Mascote

O apelido “Porco”, inicialmente uma provocação, começou a ganhar força nas décadas seguintes. Em 1986, o Palmeiras decidiu adotar o termo como mascote oficial do clube.

Essa mudança de postura marcou, portanto, uma reviravolta na história, transformando algo que começou como ofensa em um símbolo de orgulho para os palmeirenses.

O episódio, que teve início como uma tragédia, acabou moldando não apenas a rivalidade entre Corinthians e Palmeiras, mas também a identidade do próprio Palmeiras, que abraçou o apelido e o transformou em parte integrante de sua cultura e história.

O Legado de Lidu e Eduardo no Corinthians e no futebol

No meio de toda essa controvérsia e rivalidade, é importante lembrar das vidas e carreiras interrompidas de Lidu e Eduardo. Ambos contribuíram significativamente para o Corinthians, e sua trágica partida deixou, portanto, uma marca indelével na história do clube.

Enquanto o episódio de 1969 é frequentemente lembrado pela origem do apelido “Porco”, é essencial também honrar a memória dos jogadores que foram além das rivalidades e representaram, em vida, a paixão pelo futebol e pelo Corinthians.

Um Capítulo Único na História do Futebol Brasileiro

O episódio que deu origem ao apelido “Porco” para o Palmeiras é um capítulo único na história do futebol brasileiro. O luto, a tragédia, a rivalidade e a transformação de uma provocação em símbolo são elementos, portanto, que destacam a complexidade e a profundidade desse evento.

Hoje, o apelido “Porco” carrega com orgulho pelos torcedores palmeirenses, representando não apenas uma resposta à provocação do passado, mas também uma afirmação de identidade e resistência.

O futebol, em sua essência, vai além dos resultados em campo; é uma narrativa viva, cheia de nuances e reviravoltas, como a história que começou em 1969 e continua a ecoar nos estádios brasileiros.

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